Eis que um majestoso horizonte surge para os preços do boi gordo no Brasil, quase como uma dádiva de Apolo.
O mercado físico deslancha com altas diárias superiores a 2% por dia, o que fez decolar a cotação do boi gordo no mercado futuro (B3).
Em novembro fde 2019, poucos acreditaram no lançamento da primeira sessão de R$ 180 para outubro de 2020. Soou como fake news.
Até pouco tempo atrás as cotações andavam que nem caranguejo, ainda reflexo de uma economia fragilizada pela crise política que arrastou o consumo de carne bovina para o limbo.
Aos trancos e barrancos, os preços do boi gordo reagiram, R$ 152 em janeiro de 2019 e R$ 156 seis meses depois – alta de 2,6% (veja na tabela).
Por outro lado, o custo operacional efetivo (COE) da pecuária de corte, da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), que considera 13 praças, cresceu 2,12% no mesmo período. Em 2018, foi 1,58%. Até maio de 2020 a nova alta acumulada foi de 3,55%.
Entretanto, em maio de 2019, a nebulosidade começou a dissipar com a ida da ministra da Agricultura Tereza Cristina à China para negociar a liberação de 30 novas plantas frigoríficas para exportação. Voltou com apenas 17.
Cinco de carne bovina, oito de aves e quatro de suína. Era pouco, mas a reviravolta aconteceu em agosto, com o bombástico anúncio dos focos de peste suína no país asiático.
A doença dizimou um terço do rebanho local até o momento e o controle total dos focos pode demorar mais cinco anos.
O prelúdio incorreu na habilitação de mais 25 unidades, informadas pelo Ministério da Agricultura em 9 de setembro.
Agora são 89, sendo 17 de carne bovina, seis de frango, uma de suína e uma de asinina. Setembro encerrou com arroba de R$ 160.
Desde então, o que se vê são altas subsequentes nos preços do boi gordo. Meio a tudo isso, mais cinco abatedouros bovinos, cinco de suínos e três de aves foram aprovados pela autoridade sanitária chinesa, em 12 de novembro.
O Dragão Chinês responde por US$ 1,5 bilhão em importações de carne bovina brasileira e já aumentou as embarques do produto em mais 40%.
Resultado: a cotação do boi gordo bateu os R$ 192,00 à vista, em São Paulo (14/11). Um dia depois o balizador GPB divulgava negócios na ordem de R$ 205.
“São Paulo, Mato Grosso do Sul, Pará e Tocantins não têm boi. Só Goiás está um pouquinho melhor”, informa Oswaldo Furlan, membro do Grupo Pecuária Brasil (GPB).
Preços do boi gordo com @ de R$ 200 é realidade
O céu de brigadeiro forma-se a partir de forte amplitude térmica, ainda assim está mais fácil saber onde isso tudo pode chegar e se sustenta-se no longo prazo.
O relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA) já trazia uma pista: a China aumentou a importação de carne bovina em cera de 63,6% até dezembro de 2019.
No primeiro semestre de 2020 aumentou mais 43%, ou seja, já superou 107% em menos de um ano, valores que podem ser revistos para cima a qualquer momento, lembrando que os árabes também entraram na disputa.
Os árabes credenciaram oito frigoríficos de bovinos e até março de 2020 já importaram do Brasil 8.420 toneladas de equivalente carcaça até fevereiro (20% mais no comparativo ao ano anterior).
“Existe espaço para essa arroba do boi gordo de 200 Reais, a questão é se ela vai ceder. Nós temos todos os fatores apontando para um cenário de alta para 2020”, resume o analista Hyberville Neto na Carta do Boi da Scot Consultoria.
Esse é um ponto importante porque o mercado do boi gordo arrefece apenas na safra, composta, em sua maioria, por gado a pasto. “Gado a pasto no Brasil , geralmente, não tem os 30 meses que o boi-china exige”, informa.
Essas eram perspectivas compiladas no ano passado. Até o momento (25/08/2020), o que vemos é uma arroba de R$ 230,00.
Relação de troca complica confinadores
Com baixa oferta de machos jovens terminados, é esperada uma forte demanda por novilhas. “Isso inflaciona o mercado como um todo, inclusive o boi gordo. No período de safra, normalmente pressionado, talvez tenhamos a surpresa de preços consistentemente mais firmes”, observa Hyberville.
Para os confinadores, o milho está mais caro, em torno de R$ 57/saca, e reposição também com preços superiores, entre R$ 2.800,00 e R$ 2.950,00, embora, não necessariamente, com relação de troca negativa.
A intensa disputa por bovinos jovens no mercado spot favorecem os preços futuros do boi, como já tem ocorrido.
“Vai ter uma corrida de boi a termo para o segundo semestre. Frigoríficos pequenos e médios habilitados à China, que não usavam essa ferramenta, vão se utilizar dela porque precisam de boi também”, aponta o especialista, complementando que eles vão sofrer com a concorrência dos grandes.
De janeiro a dezembro de 2019, o Brasil exportou mais de 1,8 milhão de toneladas de carne in natura, recorde absoluto em toda a série histórica.
Economia favoreceria consumo de carne bovina
Informações da Carta Boi da Scot Consultoria destacavam em novembro de 2020 as projeções do relatório Focus, elaborado pelo Banco Central, que apontava para um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,25% em 2020, um pouco acima do 1,1% registrados em 2019.
Com a pandemia do Covid-19, os prognósticos são caóticos, falam em queda acima de 5%. O consumo doméstico de carne bovina também estava em ritmo de recuperação e a tendência era de continuidade.
Tomando um indicador como exemplo, a Intenção de Consumo das Famílias, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), subiu 0,2% em outubro de 2019 e, na comparação anual, estava 7,7% maior que em 2018.
Com as complicações do isolamento social, este índice apresentou uma queda histórica em maio de 2020: 13%. O fôlego é a taxa Selic mais baixa da história (2%).
Voo em céu limpo também pode apresentar turbulência inesperada, como a chegada do Coronavírus ao Brasil, mas as coordenadas apontam uma arroba firme.
Cotação da arroba do boi gordo no decorrer do ano em São Paulo |
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Data | Valor |
30/01/2019 | R$ 152 |
28/02/2019 | R$ 152 |
30/03/2019 | R$ 155 |
29/04/2019 | R$ 157 |
30/05/2019 | R$ 153 |
28/06/2019 | R$ 156 |
28/07/2019 | R$ 156 |
30/08/2019 | R$ 156 |
30/09/2019 | R$ 160 |
30/10/2019 | R$ 166 |
01/11/2019 | R$ 167 |
07/11/2019 | R$ 173 |
12/11/2019 | R$ 181 |
14/11/2019 | R$ 192 |
19/11/2019 | R$ 205 |
27/11/2019 | R$ 226,50 |
03/12/2019 | R$ 219,45 |
04/12/2019 | R$ 212,00 |
13/12/2019 | R$ 200,00 |
Janeiro/2020 | R$ 200,00 |
Fevereiro/2020 | R$ 195,00 |
Março/2020 | R$ 195,00 |
Junho/2020 | R$ 117,00 |
Julho/2020 | R$ 218,50 |
Agosto/2020 | R$ 230,00 |
Outubro/2020 | R$ 236,50/B3 |
Fonte: Pec Press com informações de Pecuária Brasil,Notícias Agrícolas, ADVFN e Scot Consultoria
Artigo atualizado em 25/08/2020