A heterose ou vigor híbrido, que ainda pode ser definida como choque de sangue entre as diferentes raças utilizadas em um cruzamento, sozinha, já é capaz de proporcionar um salto quantitativo de 15% nos índices produtivos do rebanho.
É uma equação muito simples. A mãe natureza extrai para o híbrido gerado as melhores características dos seus progenitores. Quanto maior o distanciamento sanguíneo, mais superior será o indivíduo em comparação à média dos seus pais.
Por este motivo que o bezerro meio-sangue zebuíno/taurino – nosso formidável F1 – caiu nas graças da pecuária de resultados. Possui qualidade de carne melhor que a da mãe-zebu e maior rusticidade e adaptabilidade em relação ao pai taurino.
Mas de tão simples torna-se perigosa em mãos descuidadas. Não é porque cruzou que um milagre vai acontecer na produção de carne da sua fazenda.
Torna-se improvável agregar aquelas três ou mais arrobas almejadas no peso ao abate do lote – oito meses mais cedo – se a genética utilizada no cruzamento realizado não permitir margem para tanto.
“Heterose não faz milagre. Temos de considerar também o efeito aditivo [complementar] tanto entre as raças utilizadas quanto entre os indivíduos escolhidos”, advertem Gilberto R.O. Menezes e Roberto A.A. Torres Júnior, pesquisadores da Embrapa Gado de Corte, em um recente artigo assinado.
Características ligadas à adaptação e reprodução tendem a apresentar os maiores acréscimos enquanto aquelas relacionadas ao desempenho e à carcaça são menores
Só heterose não basta
Ou seja, se uma das raças possuir desempenho muito inferior ao da outra, será difícil o bezerro superar a média da mãe ou do pai mais produtivo. Igualmente, a regra se aplica aos indivíduos, isoladamente. Note, caro leitor, que temos dois agentes envolvidos: o fator raça e o casal de animais envolvidos no acasalamento em si.
Ainda tem outro agravante: além da genética ser aditiva, é preciso garantir uma dieta diferenciada à “fábrica de carne” que se acabou por criar. Flancos de capim em cima de argila não oferecem condições para que o “modo-turbo” dos genes seja ativado.
Segundo os geneticistas mais conservadores, em via de regra, o vígor híbrido é responsável por incrementos na ordem de 15% em produtividade. Já os pesquisadores da Embrapa Gado de Corte são mais audaciosos e dizem que os ganhos podem atingir ou até superar os 30%.
Eles explicam que características ligadas à adaptação e reprodução tendem a apresentar os maiores acréscimos enquanto aquelas relacionadas ao desempenho e à carcaça são menores.
Para o zootecnista Alexandre Zadra, o ganho em peso de um meio-sangue Angus X Nelore pode ser 15% a 20% maior que o de um zebu puro.
“A forma de se obter o máximo benefício do cruzamento industrial é conduzi-lo com animais de qualidade genética superior. O criador que falha ao não considerar a avaliação genética contribui para o fornecimento de gado de baixo desempenho e um menor interesse na raça envolvida”, conclui o pesquisador Gilberto Menezes.
Por esta razão, não basta cruzar, é necessário enxergar a técnica com uma visão mais ampla. Conhecer se o produto cruzado tem mercado, se vão pagar mais pela @ e se existe acesso a insumos importantes como suplementação, fertilizantes e mão de obra qualificada faz toda a diferença.
Mais um pouco sobre Heterose
De acordo com informações das pesquisadores Juliana Santin e Liziana Rodrigues, em artigo para uma revista especializada em pecuária de corte, a literatura descreve a existência de três tipos de heterose, a individual, a materna e a paterna.
A individual, como o próprio nome sugere, aplica-se ao próprio animal em relação à média dos seus pais, por meio do aumento de sua produtividade e vigor, sendo função das combinações gênicas presentes na geração corrente.
A heterose materna manifesta-se na população por meio de efeitos da utilização de fêmeas de cruzamento ao invés de puras. Já a heterose paterna refere-se a qualquer vantagem na utilização de reprodutores puros de raças de cruzamento industrial sobre a performance da progênie.
Importante salientar que tanto o choque de sangue paterno como o materno são funções de combinações gênicas presentes na geração anterior, o que não pode ser confundido com heterozigose.
O que é heterozigose?
Heterozigose é um conceito estatístico que define a probabilidade de que os alelos (genes) de um determinado locus (segmento) provenham de raças distintas.
Assim, ao se cruzar Angus e Nelore, a heterozigose é de 100%, pois 100% dos genes estão vindo de raças puras diferentes.O mesmo se pode ocorrer ao cruzar animais da mesma subespécie de raças iguais, como Nelore e Tabapuã.
Juliana e Liziana reforçam que heterose e heterozigose são conceitos distintos. A heterose consiste no quanto melhor é o desempenho do F1 em comparação ao desempenho dos seus pais de raça pura, como dito no início deste artigo.
Como calcular o choque de sangue?
Vejamos o exemplo de um Nelore com peso de 180 quilos e um Angus de 250 quilos. Fazendo uma média das duas raças, chega-se a 215 quilos no desmame.
Agora, imaginemos se os bezerros originados desse cruzamento registrem um peso de 250 quilos no desaleitamento devido à heterose. Fazendo a diferença entre o peso dos animais F1 em relação à média dos pais, temos: 250 – 215 = 35 quilos.
Ao dividir esse valor pela média dos pais, se chega ao valor da heterose em porcentagem: 250 – 215 = 35 : 215 X 100 = 16% de heterose.
No caso de uma cruza entre dois zebuínos, a exemplo do Nelore e Tabapuã, tomando como ponto de partida o peso ao desmame de 180 quilos para o Nelore e de 210 quilos para os animais da raça Tabapuã, temos uma média de 195 quilos.
Assim, considerando que os animais F1 zebuíno tenham um peso médio ao desmame de 220 quilos, temos: 220 – 195 = 25/195 * 100 = 12,8% de heterose.
Mesmo havendo, nos dois casos, 100% de heterozigose, a diferença na heterose é determinada pela maior distância genética entre as raças acasaladas.
A heterose é diretamente proporcional à heterozigose, ou seja, quanto maior essa última, maior será a outra. Mas vale ressaltar que o valor da heterose nunca alcançará 100%.
Tudo isso mostra que a única coisa que podemos administrar realmente num cruzamento industrial é a heterose. Encontre mais informações sobre o assunto neste artigo.